segunda-feira, 11 de abril de 2016

A Odisséia de Bento de Góis

Bento de Góis teve uma vida curta, mas recheada de aventuras na Ásia.
     Deixou este mundo há 409 anos o leigo jesuíta Bento de Góis. Este explorador português foi o primeiro europeu a viajar da Índia para a China via Ásia Central, descobrindo que o reino de Cataio e a China eram, na verdade, o mesmo território. Natural dos Açores, o missionário tinha 44 anos quando faleceu em 11 de abril de 1607. Parte do seu diário foi recolhido pelo seu auxiliar Isaac (de origem armênia) e um raro jesuíta chinês que lhe acompanhava. Eles entregaram ao padre erudito Matteo Ricci - que introduziu o catolicismo na China - , que anos depois publicou o relato da viagem.  
      Em um dos trechos Bento de Góis afirma que no temido Caferstan “os mercadores gentios podem entrar na cidade, mas não nos templos” e menciona as vestes negras dos seus habitantes, a fertilidade da terra e a abundância de uvas. Ao provar o vinho da terra, “semelhante ao nosso”Góis deduz que toda aquela região seria habitada por cristãos.
       Depois de uma demorada estada em Cabul, o jesuíta seguiu em direção ao norte, e aí aumentaram as dificuldades. Bento refere um local onde os direitos eram cobrados pelo “rei de Bucarate” (Bucara) e fala-nos da dificuldade em passar por Teshkan (Tashkent), à época administrada simultaneamente pelos emirados afegãos de Bucara e de Samarcanda.      Para além dos problemas com as esferas do poder, havia que contar ainda com os entraves geográficos – “porque é apertadíssimo o caminho, e não há passagem para mais que uma só pessoa, num altíssimo precipício sobre um rio” – e os assaltos dos ladrões, sem esquecer os imprevistos meteorológicos, “a força dos aguaceiros”, que os chegaram a deter durante “quinze dias em campo aberto”.                                                                               O padre francês Henri Bernard afirma na sua obra LFrère Bento De Goes chez les Musulmans de la Haute Asie (1603-1607): “De acordo com os maiores historiadores, se o diário de Bento de Góis se tivesse conservado intacto, seria provavelmente a relação mais importante do ponto de vista geográfico das regiões que ele atravessou”.

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